Professores da Educação Infantil em sala da aula com crianças
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Pesquisa publicada em 2018 pela Universidade de Gothenburg concluiu que professoras da Educação Infantil estão expostas a ruído excessivo nas escolas da Suécia. Cerca de 71% das educadoras apresenta perda de audição, especialmente as mais jovens, na faixa de 18 a 44 anos.

A autora da tese é Sofie Fredriksson, audiologista e doutora em Medicina Ocupacional e Ambiental. A pesquisa foi realizada apenas com mulheres, sendo entrevistadas 4.718 professoras da Educação Infantil na Suécia.

Sofie constatou que 71% das professoras desenvolveram fadiga auditiva causada por ruídos externos e 46% tinha dificuldade de compreensão de fala. A pesquisadora, então, entrevistou outras 4.122 mulheres da população em geral e comparou os resultados. Nesse segundo grupo, apenas 32% das mulheres demonstraram ter experimentado fadiga auditiva em algum momento.

Nas escolas de Educação Infantil, as professoras convivem diariamente com muito barulho devido à agitação das crianças nas brincadeiras e conversas em alto volume, gritos, choros, carteiras arrastadas, e campainhas estridentes. Essa exposição causa fadiga auditiva induzida por ruídos, hiperacusia (acuidade auditiva exacerbada, dolorosa em certos sons, sobretudo os agudos) e dificuldade de compreensão da fala.

A fadiga auditiva gera a sensação de pressão no ouvido, como se estivesse cheio ou zumbido contínuo. Dependendo do tempo de exposição ao barulho, a perda é irreversível, pois as células ciliares que captam os sons são muito sensíveis e podem ser destruídas.

Cuidados na prevenção à perda da audição

A fonoaudióloga Marina Panelli comentou a pesquisa da universidade sueca no programa “Na Ordem do Dia”, exibido na TV CPP em 12 de fevereiro de 2019. Na entrevista, ela relatou que há outras pesquisas comprovando a exposição dos professores ao ruído excessivo nas salas de aula, variando entre 59 a 89 decibéis (dB).

Entrevista com a fonoaudióloga Marina Panelli (TV CPP, 2019)

Apesar de não existir uma legislação específica para controle e prevenção da perda auditiva para os profissionais da educação, o ruído de 89 decibéis é bastante elevado.

As normas de higiene ocupacional limitam a intensidade e o tempo de exposição ao ruído. No Brasil, por exemplo, a Norma Regulamentadora NR 15 da Secretaria de Inspeção do Trabalho limita a exposição ao ruído em 85 decibéis para a jornada de 8 horas. Dessa forma, o valor de 89 decibéis em sala de aula é quase o dobro do ruído máximo admitido na norma brasileira (medido em escala logarítmica, fator de dobra igual a 5 dB).

Visando à prevenção, Marina Panelli orientou os professores a fazerem audiometria de forma periódica, a cada seis meses, e no momento de nova contratação. Muitos professores demoram até 7 anos para fazerem o exame fonoaudiológico, tempo excessivo que dificulta adotar medidas preventivas.

Em relação à fonte emissora, o professor deve procurar manter boa disciplina na sala de aula, de forma a reduzir os ruídos das crianças. Marina observa que os professores devem descansar em ambientes silenciosos após o fim da jornada de trabalho.

O diagnóstico e os exames para avaliação da perda auditiva devem ser realizados por médico otorrinolaringologista, com encaminhamento ao fonoaudiólogo. Poderá ser indicado aparelho auditivo, prótese sobre o ouvido, ajustado à audiometria do indivíduo. Há diversos modelos compactos e de tecnologia avançada que possuem boa qualidade sonora, reduzindo o desconforto auditivo.

Uma pesquisa norte-americana, realizada pela Wakefield Research for EPIC Hearing Healthcare, mostrou que grande número de professores nos EUA é afetado pela perda auditiva. Muitos desses profissionais deixam de procurar ajuda médica para tratarem a dificuldade de ouvir. A principal razão disso é o receio que o empregador descubra o problema auditivo e dispense o professor com problemas auditivos.

Referências

CENTRO DO PROFESSORADO PAULISTA (CPP). Fadiga auditiva aflige cada vez mais profissionais da Educação.

FREDRIKSSON, Sofie. Hearing-related symptoms among women Occurrence and risk in relation to occupational noise and stressful working conditions. Tese de doutorado. Department of Occupational and Environmental Medicine, Institute of Medicine at Sahlgrenska Academy. Universidade de Gothenburg: Suécia, 2018.

PORTAL N10. Maioria dos professores da Educação Infantil tem problemas de audição, diz pesquisa.

SECRETARIA DA INSPEÇÃO DO TRABALHO (BRASIL). NR 15: Atividades Insalubres e Perigosas.

TV CPP. Sete em cada dez professores têm dificuldades de audição. Entrevista com a fonoaudióloga Marina Panelli.

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