Pesquisa revelou que a probabilidade de obter lucros em sucessivas operações day-trading (negócios diários com ativos financeiros) é extremamente baixa. Analisando os resultados de 20 mil operadores day-traders brasileiros persistentes, menos de 1% deles obteve lucro médio diário em mais de 250 pregões realizados entre 2012 e 2017.
Day-traders são operadores ou investidores que, diariamente, compram e vendem os mesmos ativos financeiros, em igual quantidade. Seu objetivo é obter ganhos imediatos e cumulativos nessas operações de curtíssimo prazo, sujeitas à grande volatilidade do mercado de capitais e riscos.
A pesquisa foi encomendada pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais. Os resultados foram divulgados em março de 2019 no artigo “É possível viver de day-trading?”, elaborado por Fernando Chague e Bruno Giovannetti, professores da Fundação Getúlio Vargas – FGV de São Paulo.
Nos últimos cinco anos houve aumento expressivo do número de pessoas físicas que realizam o day-trading como principal atividade profissional no Brasil. No entanto, faltam informações públicas confiáveis sobre o retorno para aqueles que entram nesse mercado.
Metodologia e resultados
Para superar essa limitação, os pesquisadores acessaram as informações no banco de dados disponibilizado pela CVM sobre as atividades completas entre 2012 e 2017 para todos day-traders qualificados como pessoas físicas.
A análise dos dados se concentrou nos contratos de mini índice e mini dólar, o principal tipo de operação day-trading realizada no Brasil por pessoas físicas.
Os pesquisadores notaram “[…] fortes evidências de que não faz sentido, ao menos econômico, tentar viver de day-trading“. Para comprovar essa hipótese, eles analisaram o desempenho de 19.696 operadores que começaram a fazer day-trade em mini índice de 2013 a 2015, separando-os em dois grupos:
- Grupo 1: Desistentes (92,1%): a maioria, 18.138 pessoas que desistiram gradualmente de operar, negociando em até 300 pregões.
- Grupo 2: Persistentes (7,9%): 1.558 pessoas que negociaram em mais de 300 pregões, aquelas que de fato vivem de day-trading.
Entre os day-traders persistentes, 1.415 pessoas (91% do grupo 2) sofreram prejuízo, enquanto 143 pessoas (9% do grupo 2) obtiveram lucro em mais de 300 pregões. Apenas 13 (treze) pessoas, menos de 1% dos persistentes, conseguiram lucro médio diário superior a R$ 300,00 (trezentos reais).
Esse lucro diário equivale à remuneração mensal de R$ 6.000,00 (seis mil reais), considerando 20 dias úteis com pregões na bolsa. Desse modo, na amostra com quase 20 mil pessoas, apenas 13 day-traders conseguiram obter o equivalente à renda mensal superior a R$ 6 mil durante mais de 15 meses (300 pregões divididos por 20 pregões/mês).
Probabilidade de 0,08% para renda superior a R$ 300,00 ao dia
Os pesquisadores também testaram se haveria mudanças no grupo de persistentes nas operações day-trading, caso o número mínimo de pregões fosse reduzido de 300 para 250. Mesmo assim, os resultados não variaram significativamente.
Aplicando esse critério aos 1.558 day-traders persistentes, constatou-se que 1.367 pessoas tiveram prejuízo (88% do grupo), enquanto 191 operadores conseguiram lucro (12% do grupo). Na verificação do lucro médio diário superior a R$ 300,00 (trezentos reais), apenas 15 pessoas teriam conseguido esse resultado (menos de 1% dos persistentes).
Assim, os day-traders que encerraram suas posições com saldo positivo representam 0,97% (menos de 1,00%) do conjunto total de operadores analisados (191 dividido por 19.696).
Os pesquisadores estabeleceram, então, que a probabilidade de alguém começar a fazer day-trade e conseguir, após o período de aprendizado, renda média diária maior do que R$ 300,00, é igual a 0,08% (15 dividido por 19.696). Isso equivale a 8 pessoas em cada dez mil operadores, sendo extremamente desfavorável nessa atividade.
No estudo, foram desconsiderados eventuais custos de corretagem, cursos de aperfeiçoamento e de tecnologia (plataformas e aplicativos).
Desempenho do day-trader tende a piorar
Chague e Giovannetti (2019) também alertaram que o desempenho dos day-traders tende a piorar à medida que persegue ganhos cumulativos no mercado.
Essa última evidência contraria a posição de muitos especialistas das corretoras de valores ao defenderem que “day-traders melhorariam com a experiência” e, portanto, deveriam persistir na atividade.
A pesquisa divulgada demonstrou que a probabilidade de operadores obterem ganhos no day-trading é extremamente baixa. Apenas a ínfima fração de 0,08% dos profissionais que atuam nessa atividade conseguiria alcançar e manter ganhos equivalentes à renda mensal de R$ 6 mil.
Os riscos de perdas financeiras e de retornos insuficientes proporcionados no day-trading não deveriam ser negligenciados pelas corretoras e a CVM.
Essa reflexão mostra a necessidade de maior conscientização e melhoria da educação financeira frente ao crescente número de pessoas que se dedicam profissionalmente ao day-trading no Brasil.
Fonte: Editorial GEDAF, baseado na referência citada.
CHAGUE, Ferando; GIOVANENETTI, Bruno. É possível viver de day-trading? São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2019. Disponível em: <https://cointimes.com.br/wp-content/uploads/2019/03/Viver-de-day-trading.pdf>. Acesso em 25 jan. 2020.